Morre ex-vereadora Carmen Barbosa




Dona Carmen faleceu aos 91 anos com falência múltipla dos órgãos

Thereza Felipelli



Faleceu neste sábado, aos 91 anos, Carmen Dias Barbosa, ex-vereadora, primeira caiçara e segunda mulher a conquistar uma cadeira no Legislativo ilhéu entre 1976 e 1982, tendo sido escolhida como patrona da Galeria de Presidentes da Câmara inaugurada no ano passado. Muitos amigos estiveram no velório, realizado na Câmara Municipal. Seu corpo foi enterrado na tarde de domingo no Cemitério Municipal.

Carmen teve falência múltipla dos órgãos. A simpática senhorinha que adorava usar chapéus, foi homenageada no ano passado pelo Imprensa Livre em uma reportagem que retratou toda sua história de vida. “Carmen (com “n”) Dias Barbosa!”, disse ela quando perguntamos seu nome completo.

Dona Carmen, como era conhecida por muitos, foi pioneira na história da comunicação do município, chefiou a agência dos Correios, sendo responsável por transmitir os telegramas para São Sebastião via telefone, pois só a agência do continente contava com aparelho de telégrafo na época. Chegou a passar 300 telegramas num único dia, na época das festividades natalinas. “Naquele tempo não tinha carteiro, mensageiro. Chegavam lá e perguntavam: ‘tem carta pra mim’? E eu tinha que lembrar na hora quem era o ‘mim’. Isso me ajudou muito com a memória, lembrar quem era o ‘mim’, quem eram os parentes do ‘mim’”, brincou durante a entrevista.



Adorava ler. Lia um livro em casa e outro na repartição, sem misturar os assuntos. Administrou um restaurante chamado “Xamego”, no Saco da Capela. Quando terminou o contrato de arrendamento, seu ex-sócio comprou o prédio e, com o dinheiro da venda, Carmen conseguiu comprar sua casinha no Saco do Indaiá. “Tive que comer muito pão e banana pra conseguir comprar essa casa”, contou.

Ainda durante a entrevista, Carmen revelou estar sofrendo com um problema respiratório. Teimosa, lia as bulas dos remédios prescritos, que acabava não tomando com medo das reações adversas, como taquicardia e alergia. “Uso só o soro na inalação. Vou ate quando Deus queira”.



Política

Na vida pública, Carmen enfrentou a resistência e o machismo dos colegas vereadores conquistando seu espaço e o respeito de seus pares e abrindo espaço para que outras mulheres chegassem à Casa de Leis. “Via gente se candidatando que mal sabia escrever o nome”, disse ela, que, para conseguir que seus requerimentos e indicações fossem aprovados, muitas vezes precisou convencer os colegas vereadores a apresentarem as matérias como se fossem de autoria deles. O importante era ver a benfeitoria realizada.

Após sua aposentadoria, aos 51 anos, a ex-vereadora atuou como voluntária por 18 anos à frente da provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Ilhabela.



Querida

Carmen sempre morou sozinha e nunca se casou ou teve filhos. “Não teve ninguém pra casar comigo”, brincou ela, que se descreveu como uma pessoa muito independente, que sempre soube o que quis e sempre lutou por isso. “Agora não dá pra lutar por mais nada, a matéria já está cansada. Não falta nada a realizar. Sonho apenas com a minha saúde, que agora está muito prejudicada. Fiz uma sementeira muito boa de amigos, homens e mulheres, sem interesse. Minha vida foi muito gostosa”, declarou uma das senhorinhas mais queridas de Ilhabela, cidade que ela disse representar tudo em sua vida.






Foto: Ronald Kraag

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