População é contra projeto que autoriza a construção de garagens subterrâneas


População é contra projeto que autoriza a construção de garagens subterrâneas

Plenário do Legislativo ficou lotado durante audiência pública sobre projeto que autoriza a construção de garagens subterrâneas em Ilhabela
Com expressiva participação da sociedade, a Câmara Municipal de Ilhabela realizou na última sexta-feira audiência pública para discussão sobre Projeto de Lei que prevê a autorização para construção de garagens subterrâneas para estacionamento de veículos no município, de autoria do vereador afastado Jadiel Vieira, o Keko (PPL). O debate foi proposto pelo vereador Rogério Ribeiro de Sá, Professor Catolé (PV) com o intuito de sanar duvidas levantadas pelos demais vereadores, em relação à aprovação ou não aprovação do projeto, além de atender solicitação do Instituto Ilhabela Sustentável (IIS).
Cerca de 80 pessoas, entre membros da sociedade civil, secretários e turistas estiveram no plenário do Legislativo, demonstrando notória insatisfação com a propositura, já que entre os comentários, muitos foram diretamente voltados para a degradação ambiental e pela verba que seria gasta para a execução do projeto.


Em discurso breve, Catolé ressaltou que o objetivo principal da audiência era ouvir a opinião da população. Em seguida fez a leitura do projeto que em seu texto determina que “fica autorizada a construção de garagem subterrânea para estacionamento de veículos, a serem implantadas em áreas comerciais e privativas no município de Ilhabela, de acordo com a viabilidade técnica da localização e nos termos do Plano Diretor do Município de Ilhabela”.
Após a leitura, Catolé deu a palavra ao público presente. No entanto, antes do início da discussão, o presidente do Instituto Ilhabela Sustentável (IIS), Georges Henry Grego, quebrou o protocolo para ressaltar que o projeto apresentado é vago e não deixa claro o seu objetivo. “Muito do que está no projeto, já é permitido. Não conseguimos iniciar um debate sem ter uma base. Esse projeto de autorização deve estar ligado a um outro projeto específico e gostaria que o representante do Poder Executivo nos explicasse para que possamos discutir o assunto”.


Diante da indagação do presidente do instituto, o secretário municipal de Obras, Flávio Miranda, garantiu que não existe nenhum projeto para esse fim e que a propositura partiu do Legislativo. Ainda de acordo com Miranda, a construção de garagens no subsolo já está prevista no Plano Diretor do Município.
Dando a palavra aos munícipes, o primeiro a se manifestar foi Flávio Vicentini, também do IIS, que expôs que em reunião com o prefeito Toninho Colucci, na última semana, ele deixou claro que o objetivo do projeto é a construção de uma garagem subterrânea no Esporte Clube Ilhabela, para atender o futuro receptivo de navios: “Agora, o projeto em tela fala da construção em área privativa ou comercial. Onde está a parte que trata de área pública? Estou presenciando duas situações. Qual é a realidade?”, indagou.
O vereador Erick Pinna Desimone (PSDB) salientou seu posicionamento contrário ao projeto: “Nunca tive dúvidas. Desde o início fui contrário à proposta, pois sei que não irá favorecer a população. O custo de uma obra como esta é muito alto e esses estacionamentos serão caros e nem todos poderão pagar. Eu mesmo não me imagino chegar na Vila e ter que pagar por um estacionamento subterrâneo”. Segundo o par, existem alternativas como bolsões de estacionamento e um transporte público decente. Turistas também se pronunciaram contra ao projeto e declararam que o visitante que gosta de Ilhabela quando chega à cidade quer andar a pé, de bicicleta e não vem atrás de garagens subterrâneas. “O turista que é favorável a essas construções, não é o turista que Ilhabela precisa”.


Gilda Nunes se manifestou lembrando que a construção de garagens subterrâneas poderia caracterizar o terceiro pavimento, proibido na cidade. Gilda salientou que o maior problema de estacionamento em Ilhabela está na orla, onde o lençol freático é muito baixo e além da degradação, uma obra neste local custaria de três a quatro vezes mais cara: “Tudo é possível da engenharia, mas com certeza trará problemas”.
O professor Ângelo Leme Cavalheiro fez uso da palavra e se mostrou indignado com a proposta. “Estamos caminhando na contramão da lógica. Será que precisamos ‘desenhar’ para que entendam que é um não que estamos dizendo aqui?”. Cavalheiro destacou que está decepcionado em presenciar uma reunião com o prefeito municipal onde, segundo ele, os jovens foram ‘massacrados’ por ideias estúpidas e sem interesse comum. “Precisamos desmascarar esse jogo. Um maluco nos colocando arbitrariamente casa, passeios públicos, fontes, calçadas e ciclovias que não levam a lugar nenhum, que estão comendo nossas árvores. Chega”, enfatizou o professor.


O presidente do IIS ressaltou sobre a realização de estudos: “Há cerca de um ano e meio, foi solicitado ao Poder Público que destinasse uma parte do orçamento para que fosse realizado um planejamento de médio e longo prazo para Ilhabela, para, assim, decidirmos qual a cara que queremos para nossa cidade. Nada é caro demais para termos uma Ilhabela planejada. Mas o pedido não foi levado adiante”.
Georges Grego ainda salientou que o instituto não é contra o progresso, mas que se deve colocar em dúvida uma cidade entupida de automóveis, que desconsidera o transporte público. Em relação às construções subterrâneas, o presidente relatou que devido às condições geográficas da orla de Ilhabela, cada vaga para carro custaria ao município cerca de R$ 70 mil e a construção de 250 vagas, R$ 17 milhões.
“É nisso que queremos aplicar todo esse dinheiro? Será mesmo que não existem outras prioridades? Colocaremos em risco construções centenárias?” Grego expôs alternativas para solucionar o problema de estacionamento como, por exemplo, a implantação de bolsões, um transporte público com qualidade, uso da ciclovia e ainda o transporte aquaviário.

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