Separação do lixo piora com a temporada
Font Imprensa Livre
Centro de Triagem de Ilhabela recebe cerca de mil toneladas de lixo orgânico ao dia
Thereza Felipelli
É temporada de verão e, nessa época, em Ilhabela, a população costuma dobrar, até mesmo triplicar. Normalmente, em virtude desse aumento da população, a produção de lixo costuma aumentar e muitas pessoas acabam “relaxando” na hora de separá-lo. Mas além de certo descaso, muita gente também não tem conhecimento de como deve ser feita a separação corretamente. “A separação do lixo piora muito na temporada, especialmente nos bairros Barra Velha e Itaquanduba, de onde vem muito lixo orgânico”, comentou a associada do Centro de Triagem de Ilhabela, Carla Lopes da Silva Soares, 35 anos.
A Associação, que deveria só receber sucata, e limpa, recebe mensalmente cerca de 30 mil toneladas de lixo, chamado de rejeito, e até mesmo coisas que não deveriam ser descartadas nem mesmo no lixo comum. São retiradas aproximadamente mil toneladas de lixo úmido por dia.
“Sempre encontramos coisas como papel higiênico usado, produtos químicos, seringas com agulhas, pilhas, fraldas usadas, pneus, peças de bicicleta”, contaram as associadas. Elas explicaram que, com relação às agulhas, devem ser levadas dentro de uma garrafa pet à Secretaria de Saúde. A Prefeitura conta ainda com postos de recebimento de garrafas de óleo usado e pilhas. “O óleo pode trazer aqui pra gente também, porque trocamos por produtos de limpeza”, avisou a associada Nailza Moreira da Silva, 27 anos, que diz já terem encontrado até mesmo uma cobra, e viva. “E eu já me furei com uma seringa usada que tinha sangue”, relatou Carla, que contou que uma das associadas já chegou a encontrar até mesmo um cachorro morto junto com os reciclados. “Quando abri ninguém aguentou o cheiro”, contou a associada Beu.
As coletoras explicaram ainda que para descartar o vidro é ideal que seja colocado em um jornal com um aviso de que ali tem vidro. “Sempre nos machucamos. E os coletores também estão sempre se ferindo”, disseram.
Como separar?
De acordo com a administradora da Associação, Esméria Regina da Silva, o ideal é que se use um saco mais claro para o lixo reciclado e um escuro para o úmido na hora de separar. “Isso facilitaria para os coletores. Tem gente que escreve no saco que é sucata também”, destacou ela, que avisou que é preciso ter duas lixeiras em casa uma para a sucata e outra para o lixo. “A maioria que separa também se esquece que é preciso lavar a sucata pra que venha seca, limpa. Além do rejeito que vem, os resíduos acabam atraindo ratos para o local. Os restos de comida também atraem muitas moscas”. Para combater os ratos, a Prefeitura realiza uma manutenção constante na desratização do local.
“Mal educados”
Em 2013, foram 24 visitas ao Centro de Triagem, totalizando 593 visitantes. Além disso, foram realizadas seis palestras. “A educação ambiental tem resultados a médio e longo prazo. É uma questão de cultura. Tem gente que joga lixo na rua e diz que é pra não tirar o emprego dos lixeiros. Tem gente que obriga o coletor a pegar o lixo orgânico e trazer pra nós ou então pegar a sucata e levar pro lixo comum”, contou.
Este ano, também será iniciado um trabalho junto às comunidades tradicionais. “Eles são mais resistentes à separação. Nesses locais, um caminhão com tração nas quatro rodas realiza a coleta. Nos locais aonde os carros não chegam, o material vem de barco”.
Volume
Apesar da piora na separação durante esta temporada, o volume de coleta não diminuiu. “Continuamos coletando 10% de sucata ao mês”, destacou Esméria. Segundo o secretário de Meio Ambiente, Cristobal Parraga, Ilhabela é a terceira cidade no Estado de São Paulo que mais recicla. “Achei que cairia na temporada, mas isso não ocorreu”, comentou.
Centro de Triagem necessita de melhorias
Além do problema de ter muito lixo misturado, os associados do Centro de Triagem de Ilhabela enfrentam muitas outras dificuldades no seu dia a dia. Para solucionar alguns problemas, o secretário de Meio Ambiente anunciou que está previsto no orçamento a verba de R$ 850 mil para melhorias no Centro de Triagem. “Entre outras ações, compraremos uma prensa nova, um novo caminhão”, avisou ele.
Segundo a administradora do local, Esméria Regina da Silva, a Prefeitura, através de suas secretarias, ajuda bastante. “O Meio Ambiente comprou duas prensas pra nós. A presidente da Câmara, a vereadora Gracinha, também conseguiu um triturador de vidro com um deputado em São Paulo. A Prefeitura banca o transporte dos associados, dá cesta básica. Eles também assumiram todo o maquinário. Temos quatro prensas, duas balanças pequenas e um elevador. Agora também temos uma balança pra caminhão”.
Segundo a associada Carla Lopes, um dos problemas enfrentados é que o espaço é pequeno para a quantidade de material que chega. “Já teve dia que tivemos que jogar o material de dois, três caminhões fora”.
Esméria diz que é preciso modificar o modo de trabalho no local. “O ideal seria que o caminhão depositasse o material em um lugar mais alto, pra que os coletores não tivessem que ficar abaixando o tempo todo”, avaliou.
Ainda de acordo com ela, é preciso também estender o telhado “Há três anos o local é coberto. Antes os associados trabalhavam debaixo de sol e chuva. Mas ainda hoje, quando chove, acaba molhando o material. Precisamos inverter as calhas, que não estão instaladas corretamente. A verba irá otimizar o trabalho”.
Envolvimento
Segundo a administradora da associação, desde que ela assumiu, há quatro anos, os associados têm um envolvimento maior com o que acontece por lá. Tudo que entra e sai é controlado com planilhas. “Tenho uma planilha pra tudo”, comentou.
Os associados – 5 homens e 16 mulheres – trabalham das 7h às 17h de segunda a sexta-feira. Na temporada, o horário se estende até as 18h e muitas vezes trabalham aos sábados. Cada um consegue ganhar em torno de R$ 7 por hora, o que lhes garante um salário mensal que gira em torno de R$ 800 a R$ 1.200. Com a venda de latinhas e garrafas pet, passaram a ter um 13° salário também.
As associadas ainda sofrem muita discriminação na hora de ir embora pra casa, no ônibus. Porque costuma faltar água, elas não conseguem tomar banho antes de ir. “É um serviço digno como qualquer outro”, disse a associada Beu Pereira dos Santos, 40 anos.
Portanto, trate com respeito quem ajuda a limpar o que você suja! (T.F.)
Centro de Triagem de Ilhabela recebe cerca de mil toneladas de lixo orgânico ao dia
Thereza Felipelli
É temporada de verão e, nessa época, em Ilhabela, a população costuma dobrar, até mesmo triplicar. Normalmente, em virtude desse aumento da população, a produção de lixo costuma aumentar e muitas pessoas acabam “relaxando” na hora de separá-lo. Mas além de certo descaso, muita gente também não tem conhecimento de como deve ser feita a separação corretamente. “A separação do lixo piora muito na temporada, especialmente nos bairros Barra Velha e Itaquanduba, de onde vem muito lixo orgânico”, comentou a associada do Centro de Triagem de Ilhabela, Carla Lopes da Silva Soares, 35 anos.
A Associação, que deveria só receber sucata, e limpa, recebe mensalmente cerca de 30 mil toneladas de lixo, chamado de rejeito, e até mesmo coisas que não deveriam ser descartadas nem mesmo no lixo comum. São retiradas aproximadamente mil toneladas de lixo úmido por dia.
“Sempre encontramos coisas como papel higiênico usado, produtos químicos, seringas com agulhas, pilhas, fraldas usadas, pneus, peças de bicicleta”, contaram as associadas. Elas explicaram que, com relação às agulhas, devem ser levadas dentro de uma garrafa pet à Secretaria de Saúde. A Prefeitura conta ainda com postos de recebimento de garrafas de óleo usado e pilhas. “O óleo pode trazer aqui pra gente também, porque trocamos por produtos de limpeza”, avisou a associada Nailza Moreira da Silva, 27 anos, que diz já terem encontrado até mesmo uma cobra, e viva. “E eu já me furei com uma seringa usada que tinha sangue”, relatou Carla, que contou que uma das associadas já chegou a encontrar até mesmo um cachorro morto junto com os reciclados. “Quando abri ninguém aguentou o cheiro”, contou a associada Beu.
As coletoras explicaram ainda que para descartar o vidro é ideal que seja colocado em um jornal com um aviso de que ali tem vidro. “Sempre nos machucamos. E os coletores também estão sempre se ferindo”, disseram.
Como separar?
De acordo com a administradora da Associação, Esméria Regina da Silva, o ideal é que se use um saco mais claro para o lixo reciclado e um escuro para o úmido na hora de separar. “Isso facilitaria para os coletores. Tem gente que escreve no saco que é sucata também”, destacou ela, que avisou que é preciso ter duas lixeiras em casa uma para a sucata e outra para o lixo. “A maioria que separa também se esquece que é preciso lavar a sucata pra que venha seca, limpa. Além do rejeito que vem, os resíduos acabam atraindo ratos para o local. Os restos de comida também atraem muitas moscas”. Para combater os ratos, a Prefeitura realiza uma manutenção constante na desratização do local.
“Mal educados”
Em 2013, foram 24 visitas ao Centro de Triagem, totalizando 593 visitantes. Além disso, foram realizadas seis palestras. “A educação ambiental tem resultados a médio e longo prazo. É uma questão de cultura. Tem gente que joga lixo na rua e diz que é pra não tirar o emprego dos lixeiros. Tem gente que obriga o coletor a pegar o lixo orgânico e trazer pra nós ou então pegar a sucata e levar pro lixo comum”, contou.
Este ano, também será iniciado um trabalho junto às comunidades tradicionais. “Eles são mais resistentes à separação. Nesses locais, um caminhão com tração nas quatro rodas realiza a coleta. Nos locais aonde os carros não chegam, o material vem de barco”.
Volume
Apesar da piora na separação durante esta temporada, o volume de coleta não diminuiu. “Continuamos coletando 10% de sucata ao mês”, destacou Esméria. Segundo o secretário de Meio Ambiente, Cristobal Parraga, Ilhabela é a terceira cidade no Estado de São Paulo que mais recicla. “Achei que cairia na temporada, mas isso não ocorreu”, comentou.
Centro de Triagem necessita de melhorias
Além do problema de ter muito lixo misturado, os associados do Centro de Triagem de Ilhabela enfrentam muitas outras dificuldades no seu dia a dia. Para solucionar alguns problemas, o secretário de Meio Ambiente anunciou que está previsto no orçamento a verba de R$ 850 mil para melhorias no Centro de Triagem. “Entre outras ações, compraremos uma prensa nova, um novo caminhão”, avisou ele.
Segundo a administradora do local, Esméria Regina da Silva, a Prefeitura, através de suas secretarias, ajuda bastante. “O Meio Ambiente comprou duas prensas pra nós. A presidente da Câmara, a vereadora Gracinha, também conseguiu um triturador de vidro com um deputado em São Paulo. A Prefeitura banca o transporte dos associados, dá cesta básica. Eles também assumiram todo o maquinário. Temos quatro prensas, duas balanças pequenas e um elevador. Agora também temos uma balança pra caminhão”.
Segundo a associada Carla Lopes, um dos problemas enfrentados é que o espaço é pequeno para a quantidade de material que chega. “Já teve dia que tivemos que jogar o material de dois, três caminhões fora”.
Esméria diz que é preciso modificar o modo de trabalho no local. “O ideal seria que o caminhão depositasse o material em um lugar mais alto, pra que os coletores não tivessem que ficar abaixando o tempo todo”, avaliou.
Ainda de acordo com ela, é preciso também estender o telhado “Há três anos o local é coberto. Antes os associados trabalhavam debaixo de sol e chuva. Mas ainda hoje, quando chove, acaba molhando o material. Precisamos inverter as calhas, que não estão instaladas corretamente. A verba irá otimizar o trabalho”.
Envolvimento
Segundo a administradora da associação, desde que ela assumiu, há quatro anos, os associados têm um envolvimento maior com o que acontece por lá. Tudo que entra e sai é controlado com planilhas. “Tenho uma planilha pra tudo”, comentou.
Os associados – 5 homens e 16 mulheres – trabalham das 7h às 17h de segunda a sexta-feira. Na temporada, o horário se estende até as 18h e muitas vezes trabalham aos sábados. Cada um consegue ganhar em torno de R$ 7 por hora, o que lhes garante um salário mensal que gira em torno de R$ 800 a R$ 1.200. Com a venda de latinhas e garrafas pet, passaram a ter um 13° salário também.
As associadas ainda sofrem muita discriminação na hora de ir embora pra casa, no ônibus. Porque costuma faltar água, elas não conseguem tomar banho antes de ir. “É um serviço digno como qualquer outro”, disse a associada Beu Pereira dos Santos, 40 anos.
Portanto, trate com respeito quem ajuda a limpar o que você suja! (T.F.)
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