Comandante da FB-30 se recusa a sair em horário de pico devido a excesso de pedestres e usuários se revoltam
Usuários paralisaram a balsa por cerca de 50 minutos; Nova paralisação ocorreu ontem por 15 minutos
Thereza Felipelli
A balsa FB-30 que deveria sair de Ilhabela na segunda-feira às 18h acabou saindo apenas 50 minutos depois após uma grande confusão. Às 18h10 o comandante da embarcação se recusou a sair porque havia excedido o número permitido de pedestres. Quando dois funcionários do Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S/A pediram que alguns usuários descessem e atravessassem na próxima balsa, praticamente todos os pedestres – a maioria de estudantes universitários que tinham horário para estudar em São Sebastião e trabalhadores que retornavam para suas casas – se revoltou. Teve início então uma discussão acalorada entre funcionários da empresa e usuários.
Há alguns dias um novo procedimento está sendo colocado em prática e os pedestres somente podem embarcar após a entrada dos veículos para que haja um controle maior do número de passageiros.
Às 18h20 chegaram à ilha outras duas balsas, a FB-25 e a Valda II, e os estudantes tomaram o flutuante e não deixaram – gritando “queremos estudar!” – ninguém desembarcar. O delegado da Polícia Civil Vanderley Pagliarini chegou ao local e conversou com o mestre, que lhe explicou sobre o novo procedimento da Marinha, sobre superlotação, dizendo que estava apenas cumprindo ordens.
“Algumas motocicletas tentaram descer das outras duas balsas, mas os estudantes não deixaram”, relatou a jornalista Leninha Viana, que estava indo para casa após o serviço. Segundo ela, em seguida chegou ao local a Polícia Militar, que tentou conversar com os estudantes para que deixassem a balsa esvaziar. “Foi quando um veículo de uma empresa de gesso saiu da FB-25 cantando pneu, com raiva, e por pouco não atropelou uma estudante. Começou a confusão de novo. Os estudantes sacudiram o carro, quiseram agredir o motorista”, contou.
O problema só foi solucionado quando o ex-candidato a prefeito de Ilhabela, Márcio Tenório, conversou com funcionários e convenceu quatro veículos (três carros e um caminhão de pequeno porte) a saírem da FB-30, que deixou o arquipélago somente às 18h50 levando cerca de 350 pessoas a bordo, muito mais do que o número de pessoas a bordo no início da confusão, e muito mais que sua capacidade, que é de 288 pedestres.
Paralisação consecutiva
Uma nova paralisação ocorreu ontem no mesmo horário. Segundo acordado entre uma comissão de estudantes e o Dersa na segunda-feira, duas balsas deveriam começar a sair diariamente de Ilhabela no horário das 18h para atender à grande demanda. No entanto, quando somente a FB-14 apareceu no arquipélago no referido horário e alguns pedestres foram impedidos de entrar a bordo, nova revolta causou a paralisação da balsa por cerca de 15 minutos. Quando a Policia Militar chegou ao local, a confusão já tinha sido solucionada.
“Nada vai mudar”
Questionada, o Dersa informou que às 17h46 de segunda o ferry boat FB-30 atracou em Ilhabela para o cumprimento do embarque previsto para as 18h. Seguindo o procedimento operacional padrão da companhia, após o embarque dos veículos, foi iniciado o embarque dos pedestres até que se atingisse o número máximo de passageiros da embarcação..
Atingida a lotação máxima, foi dada a ordem para a suspensão do embarque. “Desobedecendo a orientação da tripulação, passageiros não autorizados invadiram a embarcação, o que impediu sua partida por excesso de pessoas. Para a solução do impasse houve necessidade de acionar a Polícia Militar, que compareceu ao local. A situação, porém, perdurou até às 18h48, quando finalmente a embarcação partiu com destino a São Sebastião”, declarou a empresa.
Ainda segundo a Dersa, em dezembro de 2013, foram implantadas medidas para ampliar a capacidade de transporte de pedestres nos horários de pico, como a ampliação do espaço de pedestres em detrimento da capacidade de transporte de automóveis. No caso da embarcação em questão, a FB-30, a capacidade original de 72 veículos foi reduzida para 56 nos horários de pico, o que ampliou a capacidade de transporte de pedestres em mais 64 passageiros por viagem.
A empresa informou também que promove campanhas de comunicação para informar e conscientizar seus usuários sobre a importância da obediência às normas de segurança.
“Caso não ocorresse o tumulto registrado, os passageiros não autorizados a embarcar na FB-30 teriam prosseguido viagem logo em seguida na FB-Valda, que atracou em Ilhabela às 18h18”, continuou a empresa, que lamentou os transtornos observados em Ilhabela, mas que prometeu manter seu compromisso de estrita observância das normas de navegação. “A empresa trabalha alinhada com as determinações da autoridade marítima e busca constantemente oferecer uma boa prestação de serviços, sem abrir mão da segurança”, finalizou a empresa, em nota enviada pela sua assessoria de imprensa.
Revolta
Segundo um dos usuários, o músico Effe, o povo mostrou sua indignação e a tendência é que isso piore se nenhuma providência for tomada. “Não é de hoje que estamos questionando o poder público para que interceda por nós e até hoje nada, só conversa e nada de atitudes positivas. Além dos trabalhadores e demais usuários, temos um número grande de estudantes que necessitam desse transporte todos os dias, e todos os dias são tratados com descaso. Hoje (segunda) a paralisação durou apenas uma hora, mas pode piorar se nada for feito com urgência”.
Em uma rede social, desde ontem circula um convite à população para participar de uma manifestação que promete paralisar o serviço das balsas a partir das 18h do sábado de Carnaval, quando inúmeras pessoas deverão ir para Ilhabela.
Prefeitura cobra explicações
A Prefeitura de Ilhabela enviou ontem um ofício ao Dersa pedindo esclarecimentos sobre o ocorrido. Assinado pelo chefe de Gabinete, Cezar De Tullio, o documento foi encaminhado ao diretor de Operações da Dersa, João Henrique Poiani, e ao coordenador de Travessias, engenheiro Ibsen Trench Gomes.
“A balsa é o único meio de transporte coletivo de acesso ao continente. Considerando que neste horário o número de pedestres que utilizam o sistema é triplicado, vez que coincide com a travessia dos estudantes e trabalhadores que retornam às suas casas, é dever do Poder Público prover condições para a travessia transcorra de forma efetiva, ordenada e segura a todos os usuários”, relatou Tullio, que solicitou à empresa que nos horários de pico mais balsas sejam disponibilizadas para o serviço de travessia.
Ainda na tarde de ontem, o chefe de Gabinete da Prefeitura conversou por telefone com o diretor de Operações da Dersa, João Poiani, que confirmou a chegada da FB-20 totalmente reformada para esta sexta-feira. A balsa tem capacidade para 48 veículos. Assim, a travessia passa ter seis embarcações.
Foto: Leninha Viana/ Divulgação
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