Maritacas invadem telhados em Ilhabela; retirada dos ninhos é crime ambiental


Maritacas invadem telhados em Ilhabela; retirada dos ninhos é crime ambiental


Ambientalistas orientam sobre como proceder com as aves sem interferir na reprodução da espécie


Maritacas são resgatadas na ASM Cambaquara (Foto: NI)

Por Daniela Malara Rossi

O período de reprodução das maritacas começa por volta do mês de agosto e alguns animais já fazem seus ninhos nos telhados dos bairros mais populosos de Ilhabela. O problema é que as aves costumam afiar seus bicos em fios elétricos e causar danos estruturais o que leva muitos moradores a retirarem os ninhos e jogarem fora, o que é considerado um crime ambiental.

O aconselhado para evitar o a reprodução das maritacas em casa é vedar as possíveis entradas dos telhados antes do período de reprodução.

O empresário Manoel Soares, 45 anos, conta que ficou sem internet recentemente e demorou para descobrir que o problema foi causado pela reprodução das maritacas no telhado de sua loja, no bairro do Perequê. "Chamei um técnico para verificar o problema após dias sem internet e ele que percebeu a presença de um ninho próximo a fiação roída. Chamamos a Polícia Ambiental e a equipe levou os filhotes", disse ele.

Geralmente, os moradores não sabem que é crime e pode dar multa a retirada dos ninhos. Já os que sabem, buscam isolar as aberturas no telhado com forro de PVC, madeira ou chapa galvanizada. Os custos variam conforme o tamanho da casa e o material utilizado. Em determinadas residências, o valor do serviço pode ultrapassar R$ 1 mil. Para orientar os moradores sobre como proceder nesses casos com baixo custo, a Prefeitura de Ilhabela e o Instituto Ilhabela Sustentável desenvolveram um material informativo para distribuição.

Segundo a administração, a melhor época para vedar os telhados é agora, já que o período de reprodução ainda não começou. O material informa sobre estratégia com telas do tipo "viveiro". Para isso, deve-se fazer bolas com tela e colocá-las nos vãos entre as telhas e o madeiramento. Às vezes é necessário fixá-la com alguns preguinhos nos sarrafo ou vigas. É necessário fechar bem, pois as maritacas são capazes de entrar em espaços com menos de 3 cm.

É importante se certificar de que não ficou nenhuma ave no telhado antes do fechamento total, para evitar o crime ambiental. Ao encontrar um ninho ou filhote com risco de vida, a pessoa deve telefonar para a Polícia Ambiental e pedir para irem até o local. O Parque Estadual de Ilhabela também pode ajudar nos resgates e encaminhamentos dos animais silvestres para a Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, no sul do arquipélago, onde são reabilitadas até retornarem à natureza.

ASM Cambaquara
Pesquisas recentes revelam que cerca de 50% das espécies silvestres desapareceram em apenas 40 anos, em todo o mundo. Dados os altos índices de morte destes animais, ambientalistas se uniram para criar um espaço destinado ao cuidado de aves silvestres encontradas em situações de perigo em Ilhabela. A ASM Cambaquara, oficializada no final de 2014, cuida tucanos-do-bico-verde, de periquitos-ricos e papagaios moleiros, além das maritacas. A área abriga cerca de 30 animais recebendo cuidados da equipe, que efetua seu trabalho de forma voluntária já há alguns anos.

No local é realizado o recebimento, adaptação, soltura e monitoramento das quatro espécies nativas da ilha, processo que pode levar de dois meses a dois anos, dependendo da situação de cada animal. Após a realização de exames e testes, começa o treinamento para vôos e readaptação alimentar, incluindo frutas e sementes colhidas na natureza, além do exercício para reconhecer predadores e outros tipos de ameaça.

A ambientalista e responsável pelo projeto, Silvana Davino, explica que a maioria dos animais resgatados em cativeiro não tem medo de pessoas, o que atrapalha bastante a readaptação, além disso, a alimentação doméstica, feita com tipos restritos de sementes, como a de girassol, causa desnutrição nos animais, pois na natureza a variação de comida é muito maior. “Criar animais em gaiolas é um crime ambiental que causa muitos danos aos animais presos e impacta diretamente na continuidade da espécie”, analisa ela.

Quando as aves estão preparadas para se reintegrarem a natureza, elas são anilhadas e microchipadas para posterior acompanhamento. As janelas dos recintos são abertas e são colocadas sementes e frutas em comedouros externos próximos para que as aves possam sair e voltar quando quiserem, ganhando autonomia em seu meio natural e mantendo sua segurança.

O trabalho é complementado com atividades de educação ambiental junto a comunidade e tem por objetivo sensibilizar e informar sobre os impactos gerados pelo homem no ambiente e o sofrimento causado aos animais silvestres, além de alertar sobre o tráfico e a prática inadequada de criá-los como animais de estimação. O projeto foi homologado pelo Departamento de Fauna da CBRN/SMA/SP e as ações são efetuadas em parceria com o Parque Estadual de Ilhabela (PEI) e o Instituto Ilhabela Sustentável (IIS). A ASM conta também com a colaboração do ornitólogo Patrick Inácio Pina e do veterinário Denis Prado Amorosino.

A expectativa da responsável pelo projeto é ampliar as parcerias para geração de mais recursos. “Agora que estamos homologados, a ideia é buscar órgãos interessados na causa e patrocínios para que possamos ampliar o trabalho”, destaca Silvana.

O casal de periquitos Pepa e Kiwi
Silvana conta um caso curioso sobre um casal de periquitos, Pepa e Kiwi. “O casal chegou muito maltratado e a fêmea, em seis anos de tratamento, ainda não conseguiu voar, mas seu parceiro, que se recuperou mais rápido e já está solto na natureza não deixou de visitá-la todos os dias nestes seis anos. Fizemos um sistema pelo qual só ele consegue entrar e sair, garantindo a reprodução do casal e a segurança dos dois”.

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